A aldeia tem uma história curiosa da qual o lobo é o protagonista. Consta que a disposição urbanística teve como objetivo a proteção, com ruas definidas (uma longitudinal e várias transversais) formando um conjunto de entradas. À noite as ruas eram fechadas com portas, de modo a que toda a aldeia ficasse protegida do ataque dos lobos aos animais domésticos. Ainda hoje existem vestígios de algumas dessas portas.
O núcleo central da aldeia poderá remontar ao séc. XVII. Consta que por aqui existiram famílias que detinham o saber da utilização da pedra em construções. A aldeia terá sido uma escola onde esse saber ficou guardado no padrão construtivo das paredes das casas e dos currais. E nos muros que passaram a ser as margens da ribeira e que resistem às suas escorrências torrenciais. Transparece da configuração da malha urbana da aldeia o sentido comunitário dos seus antigos habitantes. Sentido esse que se materializava no desenvolvimento das atividades agrícolas, na economia da aldeia ou na estratégia coletiva para enfrentar as referidas feras e as intempéries.
A comunidade unia-se em torno dos muitos e pesados afazeres que exigem o olival, a oliveira, a azeitona e o azeite. Para não falar das cerca de 400 cabeças de pequenos ruminantes (cabras e ovelhas) que povoavam montes e vales daqui até às encostas da Serra de Alvelos.
A origem do nome
Na aldeia e pela sua envolvente as figueiras são muito frequentes. Não será despropositado ligarmos o nome da aldeia a esta árvore fruteira, quer pela sua abundância já no passado, quer por algum exemplar mais notável que tenha existido em qualquer ponto central da aldeia.
Ao toque do búzio.
Símbolo do sentido comunitário dos habitantes de Figueira, o búzio ainda subsiste. A aldeia nunca teve capela, nunca teve sino. Por isso, o toque do búzio era a forma de convocar a comunidade para as decisões, para lançar sortes sobre quem era o primeiro a malhar o cereal na eira e o segundo e o terceiro … ou para moer o cereal no moinho. Ou para convocar os braços disponíveis para os trabalhos em conjunto nos campos ou na aldeia.
Marcação da utilização do forno comunitário
A utilização do forno comunitário tinha as suas regras, reconhecidas por todos os que faziam parte da comunidade. Quem pretendia cozer o seu pão, tinha que efetuar marcação prévia. Cada família possuía uma tabuleta (nome dado ao pedaço de madeira com a sua identificação). Com ela se dirigia ao forno e, na tábua de madeira que ali se encontra, colocava-a no número correspondente à sua família.
Recuperação do rebanho
Há muito tempo existiu na aldeia um rebanho com 400 pequenos ruminantes. Pensando na extensificação e numa adequação sustentada às capacidades dos campos e da aldeia, hoje em dia o efetivo terá que ser inferior. Mas depois de o gado quase ter desaparecido, a aldeia já conta com 200 cabeças pertencentes a vários proprietários. Com a requalificação da aldeia, renasce a agricultura.