ALDEIAS

Figueira

tejo-ocreza
Tejo-OcrezaFigueira
Figueira
figueira, proença-a-nova
Saber ler nas pedras. Aldeia com um enorme charme rural. O seu núcleo central esconde no seu emaranhado de ruelas o forno comunitário, o ex-libris da aldeia.

Esta aldeia é mesmo uma "aldeia": dizem-nos bom-dia as galinhas nos seus poleiros e as cabras de olhos meigos mas desconfiados; a carroça ainda tem o feno e a horta está mesmo à mão de semear; o forno comunitário ainda tem o quente aroma do pão acabado de cozer.

Figueira é aldeia em xisto, praticamente plana e de fácil circulação. O seu núcleo central esconde no seu emaranhado de ruelas o forno comunitário. Na sua envolvente terrenos agrícolas povoados de oliveiras dão origem ao "ouro verde" que já foi a riqueza da aldeia.

O acesso à aldeia coloca-nos numa bifurcação cujos caminhos envolvem o casco antigo do povoado. Este é alongado, com quelhas ora paralelas ora perpendiculares, formando como que um labirinto onde a todo o momento a presença de múltiplos pormenores da arquitetura tradicional nos transportam para outros tempos. Hortas, quintais, arrumos agrícolas, currais e capoeiras convivem em todo o espaço urbano.

No Atelier da Aldeia, estão disponíveis várias atividades para os visitantes, incluindo a oportunidade de aprender a fazer pão, uma das tradições mais marcantes de Figueira.

  • território

    Figueira localiza-se onde a aba sul da Serra de Alvelos dá lugar à planura da charneca, numa pequena elevação num ondulado quase infinito. Aqui não há proeminências na paisagem. Apenas um terreno xistoso com elevações boleadas pelo tempo e linhas de água aprofundadas até à rocha viva por águas que correm torrencialmente. Por isso o vale encaixado da ribeira estabelece à aldeia o seu limite norte.

  • natureza

    Por aqui nasce e por pouco tempo corre, mas quando corre, uma torrente agitada atesta a boa construção dos muros das suas margens. Depois de muitas curvas a Ribeira da Figueira afluirá à Ribeira das Moitas, que muitas mais curvas e contracurvas depois, encontrará o Rio Ocreza e este o Tejo.

  • história e estórias

    A aldeia tem uma história curiosa da qual o lobo é o protagonista. Consta que a disposição urbanística teve como objetivo a proteção, com ruas definidas (uma longitudinal e várias transversais) formando um conjunto de entradas. À noite as ruas eram fechadas com portas, de modo a que toda a aldeia ficasse protegida do ataque dos lobos aos animais domésticos. Ainda hoje existem vestígios de algumas dessas portas.

    O núcleo central da aldeia poderá remontar ao séc. XVII. Consta que por aqui existiram famílias que detinham o saber da utilização da pedra em construções. A aldeia terá sido uma escola onde esse saber ficou guardado no padrão construtivo das paredes das casas e dos currais. E nos muros que passaram a ser as margens da ribeira e que resistem às suas escorrências torrenciais. Transparece da configuração da malha urbana da aldeia o sentido comunitário dos seus antigos habitantes. Sentido esse que se materializava no desenvolvimento das atividades agrícolas, na economia da aldeia ou na estratégia coletiva para enfrentar as referidas feras e as intempéries.

    A comunidade unia-se em torno dos muitos e pesados afazeres que exigem o olival, a oliveira, a azeitona e o azeite. Para não falar das cerca de 400 cabeças de pequenos ruminantes (cabras e ovelhas) que povoavam montes e vales daqui até às encostas da Serra de Alvelos.

    A origem do nome
    Na aldeia e pela sua envolvente as figueiras são muito frequentes. Não será despropositado ligarmos o nome da aldeia a esta árvore fruteira, quer pela sua abundância já no passado, quer por algum exemplar mais notável que tenha existido em qualquer ponto central da aldeia.

    Ao toque do búzio.
    Símbolo do sentido comunitário dos habitantes de Figueira, o búzio ainda subsiste. A aldeia nunca teve capela, nunca teve sino. Por isso, o toque do búzio era a forma de convocar a comunidade para as decisões, para lançar sortes sobre quem era o primeiro a malhar o cereal na eira e o segundo e o terceiro … ou para moer o cereal no moinho. Ou para convocar os braços disponíveis para os trabalhos em conjunto nos campos ou na aldeia.

    Marcação da utilização do forno comunitário
    A utilização do forno comunitário tinha as suas regras, reconhecidas por todos os que faziam parte da comunidade. Quem pretendia cozer o seu pão, tinha que efetuar marcação prévia. Cada família possuía uma tabuleta (nome dado ao pedaço de madeira com a sua identificação). Com ela se dirigia ao forno e, na tábua de madeira que ali se encontra, colocava-a no número correspondente à sua família.

    Recuperação do rebanho
    Há muito tempo existiu na aldeia um rebanho com 400 pequenos ruminantes. Pensando na extensificação e numa adequação sustentada às capacidades dos campos e da aldeia, hoje em dia o efetivo terá que ser inferior. Mas depois de o gado quase ter desaparecido, a aldeia já conta com 200 cabeças pertencentes a vários proprietários. Com a requalificação da aldeia, renasce a agricultura.

  • património

    O material de construção predominante é o xisto, embora algumas fachadas dos edifícios estejam rebocadas e pintadas. Existe um padrão construtivo na utilização do xisto que distingue esta das outras Aldeias do Xisto: muitas ombreiras das portas são irregulares e em alguns muros constatamos um pouco comum assentamento vertical do xisto. Os quintais são delimitados por lajes de xisto espetadas na vertical.

    Percorrendo a rua principal da aldeia, inicialmente calcetada em pedra irregular, quer com calçada granítica, quer com calçada calcária grossa, e presentemente asfaltada, por entre ruas intrincadas com um inegável charme rural, pode ser observado um conjunto de casas de xisto com bastante interesse, ainda bem conservadas e cuja unidade faz perceber o modo de vida comunitário outrora partilhado. Exemplo deste modo de vida é o forno comunitário, a eira, e as "portas" da aldeia que se fechavam de modo a proteger os animais dos lobos que, pela noite, rondavam a aldeia em busca de alimento. Os largos existentes mantêm-se em terra onde pasta e/ou circula o gado, o mesmo que circula pelas ruas da aldeia em comunhão com os habitantes.

    Várias casas ostentam pedras com inscrição de datas - algumas do séc. XIX - muito provavelmente relativas ao ano da construção.

    Merecem destaque:

    • Casa da família Balau
      É o edifício mais notável da aldeia (séc. XIX) que possui no seu interior uma pequena capela particular, onde, no passado, era diariamente celebrada missa. Não visitável.
    • Forno comunitário
      É o ex libris da aldeia e parece datar de 1915. Continua a cozer pão vários dias por semana.
    • Fonte
      É um equipamento de meados do séc. XX, constituído por duas partes distintas, uma para uso dos habitantes da aldeia e outra, mais afastada, para uso do gado.
    • Eira
      Teve enorme relevância sócio-económica na aldeia, mas actualmente está em desuso.
    • Moinhos
      Existem vários ao longo das margens da ribeira, possíveis de visitar.
    • Lagares
      Existiam vários, mas já nenhum se encontra em funcionamento, tendo o último encerrado em 2010.
  • festividades
    • Julho: Noite de Fados
    • Agosto: Dar vida a (X)isto
    • Novembro: Magusto com arraial de concertinas
  • produtos
    • Hortícolas
    • Ovos
    • Cabritos
    • Queijo de cabra
    • Azeitona e azeite
    • Cereja
    • Pão cozido no forno comunitário
    • Bolo finto
  • como chegar

    Coordenadas GPS: 39º45’07’’N; 7º51’07’’O. Altitude: 326 m.

    De Norte e de Sul
    Na A1 sair na saída 7 (A23, Torres Novas/Abrantes). Seguir pela A23 até à saída do IC8 (Pombal/Sertã). Seguir pelo IC8 até Moitas e aí virar em direção a Figueira/Sobreira Formosa.


    Outras Informações:
    Na aldeia existem painéis informativos sobre

    • a AX Figueira, à entrada da aldeia;
    • o PR8 PNV - Caminho do Xisto de Figueira, no centro da aldeia.
  • nome dos habitantes
    figueirenses
  • ex libris
    forno comunitário

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